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Programação - a nova linguagem universal
Cristian Avanzini
Data de Publicação
3 Anos atrás
Desde os primórdios da história que os humanos criam línguas para comunicarem melhor. Dos hieróglifos dos egípcios ao latim clássico da Roma antiga, as línguas evoluíram e cresceram até se tornarem as línguas reconhecíveis que conhecemos hoje. Avançando para o século XXI, a língua que se está a tornar cada vez mais popular é a dos zeros e uns, dos parênteses e asteriscos, dos «e» comerciais e dos pontos de exclamação. Que língua é esta? Programação.
Estás a usar programação neste preciso momento.
Estás a ler isto num telemóvel, num tablet ou num computador? Iniciaste sessão num computador esta manhã ou usaste um passe de segurança para entrar num edifício? Falas frequentemente com colegas e clientes por videoconferência? Se a resposta a qualquer uma destas perguntas for «sim», estás a usar a programação indiretamente todos os dias. Todas as máquinas e dispositivos que usamos dependem de programação, de alguma forma.
Além disso, estando o trabalho cada vez mais informatizado, a maior parte das pessoas teria dificuldade em trabalhar sem programação. Além do mundo do trabalho, a programação tem sido utilizada para mudar vidas em todo o mundo. A IBM, em 2019, organizou um desafio chamado Call for Code, tendo convidado programadores a criar soluções técnicas para desastres naturais, tais como terremotos, vulcões e incêndios, utilizando código aberto para resolver problemas complexos do mundo real. A programação não é apenas o futuro do trabalho: é o futuro do mundo em que vivemos.
Quais são as diferentes linguagens de programação?
No sentido mais básico, programar é traduzir ações lógicas para uma linguagem que um computador consiga compreender. Isto permite-nos utilizar aplicações, software, websites, videojogos e muito mais. Se pensarmos em programação como o meio geral de comunicação – a voz –, então todas as diferentes linguagens serão os dialetos regionais. São compostas por palavras e frases utilizadas para comunicar com uma máquina; simplesmente, se expressam de formas ligeiramente diferentes.
Cada linguagem de programação é concebida tendo por finalidade diferentes sistemas operativos, plataformas, estilos de programação e utilizações. As mais comuns são, por exemplo, JavaScript, Python, SQL, PHP, Ruby, Java e C, a par de algumas mais modernas, tais como Rust, Swift e Hack, embora haja muitíssimas mais.
Porque é que ensinar programação deve ter a mesma importância que ensinar uma língua estrangeira
De acordo com dados da Gartner, as «coisas» ligadas (como telemóveis, tablets e smartwatches) ultrapassarão de longe a população mundial até 2020, prevendo-se que venha a haver 20 mil milhões de dispositivos a serem utilizados. Faz sentido, então, tentar compreender as linguagens das coisas mais utilizadas no planeta, ou seja, os nossos dispositivos. Desta forma, podemos ligar-nos melhor, assim como ensinar e aperfeiçoar aquilo que tais dispositivos permitem alcançar.
Talvez tenha chegado a altura de começarmos a considerar a programação uma língua estrangeira que deve ser ensinada com a mesma consideração com que se ensina português, francês e inglês. Tim Cook, CEO da Apple, parece concordar. Num excerto retirado desta entrevista, refere: «Se eu fosse um estudante francês de 10 anos, pensaria que aprender programação seria mais importante do que aprender inglês. Não digo que não se aprenda inglês, mas a programação permite-nos comunicar com sete mil milhões de pessoas. Na minha opinião, a programação deveria ser obrigatória em todas as escolas públicas».
A organização sem fins lucrativos Code.org é da mesma opinião. Este grupo dedica-se a alargar o acesso à informática nas escolas e a aumentar a participação das mulheres e das minorias pouco representadas, procurando levar a programação a ser ensinada como parte do currículo escolar. Também organizam a campanha anual «Hour of Code», um evento mundial de uma hora que celebra e desvenda a programação. De acordo com a Code.org, mais de 15 % de todos os estudantes do mundo participaram numa das campanhas Hour of Code.
Não são apenas os jovens que ainda não tenham entrado no mercado de trabalho que devem pôr a programação no topo da lista de coisas a aprender, somos todos nós. A programação é para todos, desde o freelancer que precisa de editar websites à equipa financeira que tenta compreender modelos de orçamentos, e aprender como funciona vai-nos tornar melhores no trabalho que desempenhamos.
As empresas inteligentes ensinam novas competências à força de trabalho existente, combatendo também a falta de competências com base em formação personalizada e incentivando a aprendizagem contínua. As estratégias de recrutamento destas empresas também passam por contratar programadores com pouca experiência, enquanto os programas de formação e os estágios se centram nas pessoas em início de carreira, e as palestras escolares, as maratonas de programação e os programas de experiência de trabalho servem de incentivo e inspiração para a geração seguinte de programadores. O que importa retirar daqui é que se torna cada vez mais importante as organizações apoiarem ativamente os colaboradores que têm necessidade de aprender novas competências, pois não só ficarão gratos pela segurança no trabalho que esta aprendizagem proporciona mas também se tornarão um recurso extremamente valioso para a equipa, atualmente e no futuro.
As competências de programação ajudam-nos a coexistir com a tecnologia
É habitual considerar que a programação está reservada apenas aos fanáticos da tecnologia e aos matemáticos, sendo um privilégio para um grupo restrito. Na realidade, à medida que o mundo do trabalho vai mudando e são automatizadas mais funções e tarefas, compensa preparar a carreira para o futuro. De acordo com a McKinsey, a IA e a automação vão transformar a natureza do trabalho e do local de trabalho. Prevê-se que no futuro as máquinas sejam capazes de realizar mais das tarefas repetitivas realizadas pelos seres humanos e, consequentemente, alguns trabalhos vão diminuir ou mudar, enquanto outros crescerão.
Este relatório sugere que continuará a haver trabalho suficiente (porque a tecnologia criará novos empregos e modificará outros), mas a força de trabalho terá de se adaptar a estas mudanças e aprender novas competências. Esta força de trabalho terá de aprender a conviver com máquinas cada vez mais capazes, e que melhor forma de o fazer do que aprender as linguagens que controlam estas máquinas? Mesmo se um chatbot ou robô assumisse as partes administrativas ou repetitivas de uma função de atendimento ao cliente (dando tempo às pessoas para desempenhar mais tarefas exclusivamente humanas), esta tecnologia continuaria a necessitar de alguém que escrevesse o código que lhe permitiria funcionar. Também seria necessário alguém para aperfeiçoar a tecnologia, melhorando-a continuamente.
Este futuro da tecnologia não é uma sentença de morte para a força de trabalho – realça sim a necessidade de aprender novas competências e de considerar o papel que a tecnologia terá ao lado das atuais competências nos próximos 5, 10 ou 15 anos. Sabendo o que vai mudar nas nossas funções, podemos adquirir as competências necessárias para continuarmos empregáveis.
Porque é que devemos aprender a programar, mesmo que não sejam essas as nossas funções
De acordo com este estudo da PWC, 74 % dos trabalhadores estão dispostos a adquirir novas competências ou a requalificarem-se completamente, de modo a permanecerem empregáveis no futuro. Obviamente que aprender a língua do futuro torna-nos empregáveis. Importa ter em conta que estas competências são úteis independentemente das nossas funções atuais. Além disso, num estudo feito para a Oracle Academy, verificou-se que mais de sete milhões de anúncios de trabalho nos EUA em 2015 correspondiam a funções que valorizavam competências de programação. Há uma procura evidente por estas competências e os empregos de programação estão a crescer de forma 50% mais rápida do que o mercado em geral.
Embora a programação seja muito procurada por empresas de todos os tamanhos, é também uma competência extraordinariamente útil, especialmente para freelancers e trabalhadores independentes. Permite-nos não só criar o nosso próprio website, mas também automatizar tarefas que, de outra forma, poderiam causar uma perda de tempo significativa. Tarefas como introduzir dados ou responder a perguntas fáceis de um cliente podem ser todas feitas por software, desde que esteja bem programado. Mesmo o conhecimento mais básico pode ser útil. Porquê esperar pela resposta da equipa técnica quando nós próprios podemos fazer pequenos ajustes e mudanças, passando para a tarefa seguinte de forma rápida e eficiente?
Em 2019, nunca foi tão fácil aprender a programar. A programação, que anteriormente estava circunscrita a cursos de três anos, está agora acessível a todos. Há muitos recursos gratuitos online, mas para quem quiser chegar a um nível superior, há empresas como a Le Wagon que, em apenas três meses, ajuda as pessoas, do zero, a estarem preparadas para enfrentar múltiplos desafios de programação.
O que importa retirar daqui, simplesmente, é que é útil aprender programação. Quer seja um gestor ou um trabalhador numa empresa, as competências fundamentais que adquirir ao aprender programação vão prepará-lo para o futuro. Portanto, da próxima vez que pensar em aprender uma nova língua, mergulhando em frases e gramática, escolha a programação e comece a comunicar na língua do mundo.
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